quarta-feira, 29 de abril de 2015

Quilombolas e a distorção da história/ como se fabrica um documentário. E também uma matéria assinada...


Documentário registra a retomada de território quilombola no norte do Estado (ES)

A retomada de território quilombola no norte do Espírito Santo é tema do documentário As Sementes de Angelim. As terras dos quilombolas foram tomadas pela Aracruz Celulose (Fibria) e usadas para plantios de eucalipto  por décadas. Atualmente, após recuperar a terra, os quilombolas produzem alimentos saudáveis em Angelim.

O documentário será lançado nesta quarta-feira (29), às 18 horas, no Centro Cultural Teodorinho Trica Ferro, na Vila de Itaúnas, em Conceição da Barra. A  retomada do território do Angelim ocorreu em 2006.

Na divulgação do lançamento do filme, é lembrado um relato: "O eucalipto trouxe muita coisa ruim, acabou com as nossas caças. Nós, que somos do quilombo, estamos tentando recuperar o que eles tomaram da gente".  

O documentário foi realizado pela da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) do Estado  e contou com o apoio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). As  imagens e edição são de Fabíola Melca.

A Fase registra que o  filme aborda a experiência de retomada de um território quilombola no Sapê do Norte e as consequências da plantação de eucalipto na região, formando o chamado "deserto verde" no cemitério quilombola de Angelim.  

Através do filme, pode-se perceber que o sentimento das populações locais é o mesmo: a vontade de reconstruir uma terra explorada por décadas (desde os anos 60 do século passado) pela monocultura de eucalipto. 

A histórica retomada do território teve início em agosto de 2010 e ainda está em curso. O documentário foi gravado entre 2013 e 2014.
Os quilombolas não têm energia elétrica ou água encanada, entretanto resistem  cheios de sonhos e perspectivas. A luta dos quilombolas de Angelim para reaver a área começou com um grande mutirão. 

Na ocasião, eles fizeram a retomada de 35 hectares do eucaliptal,  abandonado desde 2008.  O filme retrata, então, a relação que a comunidade passa a desenvolver com as terras, partindo para o cultivo de gêneros alimentares como feijão, mandioca, melancia, abóbora, bananeiras e coco.

Os quilombolas cercaram a área agrícola, demarcando a posse e o uso comunitários, determinados a fazer dali uma "área livre de eucalipto e agrotóxicos". A ideia foi ocupar a área e construir um saber agroecológico estratégico, através de um experimento de transição da monocultura do eucalipto para a produção de alimentos e da recuperação da mata atlântica, a partir de nascentes, córregos e matas ciliares.

Na divulgação do filme, é destacado ainda que, atualmente, a resistência em Angelim já experimenta caminhos de transição que mostram ser possível reconstruir a agricultura por meio de modelo não industrial, que é pautado pela lógica de mercado e esgota os solos, tornando-os impróprios para o cultivo.

E que, a área ainda está em litígio com a Aracruz Celulose. Os quilombolas de Angelim pretendem ocupá-la de forma permanente com cultivos de "bem de raiz", como são chamadas as plantas e árvores tradicionais da mata atlântica. 

Os quilombolas  sabem que a Aracruz Celulose (Fibria) tem uma enorme dívida ambientalcom a comunidade e se organizam para cobrar, pressionando a empresa e os governos federal e do Estado para a posse e uso definitivo do território. Na terra onde antes só se plantava eucalipto, retomada em 2006,  hoje são colhidos alimentos. 

E a luta dos quilombolas não para: eles sonham com a reconquista e a reconversão de todo o antigo território do Sapê do Norte, formado pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra.

Os primeiros plantios de eucalipto da então Aracruz Celulose começaram em novembro de 1967. Nesta ocasião, a empresa já havia grilado terras dos quilombolas e de pequenos produtores rurais. Em Aracruz, a empresa já havia tomado terras indígenas. 

Para isto, usou pistoleiros, como o temido matador major PM Orlando Cavalcanti, da PM,  e o tenente Merçon, do Exército. Também usou o poder econômico e sua parceria com o governo militar e com os governadores biônicos (não eleitos pela população). 

Dos quilombolas, a empresa tomou, seja comprando por preços vis a partir de sedução com promessa de empregos e bons salários, ou pela força, 50 mil hectares.

Ainda hoje a Aracruz Celulose (Fibria) mantém um clima de guerra com os quilombolas: os que ousam contestar a ocupação da empresa, sofrem ações físicas e contra o patrimônio.

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