segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Produzir e preservar é possível

por Carlo Lovatelli e Marcelo Duarte



Os olhos do mundo se voltam para o Brasil quando o debate é sobre a necessidade de duplicar a produção de alimentos, pois a população do planeta somará 9 bilhões em 2050, segundo a ONU. Por que o Brasil?


Certamente porque se leva em consideração o peso atual do nosso país: terceiro maior produtor de alimentos do mundo, primeiro produtor e exportador de açúcar, café, suco de laranja e álcool, e segundo principal produtor do complexo soja e de carne bovina.


Mas o mundo olha também para o Brasil quando se debate o aumento de produção agrícola versus sustentabilidade, como se houvesse uma dicotomia entre ambas. É possível produzir e preservar.


O mundo precisa se informar melhor sobre a realidade do agronegócio brasileiro e suas ações em matéria de sustentabilidade. Temos a legislação rural ambiental mais exigente do mundo, áreas de preservação permanente e de reserva legal inexistentes em nossos concorrentes — Europa e Estados Unidos.


O estado de Mato Grosso, principal produtor brasileiro de soja, tem 62% de áreas de vegetação nativa, 28,5% de pastagens, 7,8% destinados à agricultura. A área preservada em Mato Grosso corresponde aos territórios da França e da Bélgica juntos.


O Brasil é dos poucos países que desenvolvem o cultivo direto na palha e o controle biológico de pragas, práticas conservacionistas. Produzimos mais alimentos com menos recursos naturais: três safras na mesma área e no mesmo ano. Somos exemplo mundial em logística reversa: 98% das embalagens de defensivos são devolvidas para reciclagem.


Aos poucos, o mundo toma conhecimento de que em cinturões da soja, como Sorriso, Sinop e Lucas do Rio Verde, o nível de qualidade de vida das comunidades é mais elevado do que em outras regiões do país.


O Brasil é uma potência agrícola graças à tecnologia e à saga das famílias que se deslocaram do Sul para as terras do Centro-Oeste, desenvolvendo a área do cerrado, semeando a principal cultura agrícola, a soja.


Além do conhecido óleo de soja, utilizado na alimentação, um outro derivado desta oleaginosa, o farelo, é base para a ração de aves, suínos, peixes e gado, no mundo todo.


O Brasil conquistou a posição de celeiro da humanidade por uma outra razão importante: muitos dos seus produtos agrícolas têm modelos de negócio competitivos, como a soja e a cana-de-açúcar, graças a pesquisa e desenvolvimento tecnológico.


Agora, Mato Grosso, estado onde ocorreu uma colonização produtiva, está dando um passo à frente no sentido de melhorar a eficiência na gestão da propriedade rural.


O Programa Soja Plus, de gestão das fazendas de Mato Grosso, instituído em 2010, tem por objetivo mostrar aos produtores como fazer uma boa gestão das suas propriedades do ponto de vista trabalhista, produtividade, qualidade e responsabilidade social.

Em 2011, cerca de 1.500 produtores de soja de Mato Grosso foram atendidos pelo Soja Plus com o fornecimento de materiais didáticos, realização de oficinas de campo e diversos cursos.


O primeiro módulo do programa tratou de normas trabalhistas, saúde e segurança ocupacional. Em 2012, a ênfase será dada às melhores práticas de produção, planejamento de construções rurais e continuidade das ações de qualidade de vida no trabalho.


A aprovação do novo marco regulatório ambiental — o Código Florestal — permitirá desenvolver atividades para adequar a propriedade rural à nova legislação, o que proverá a almejada segurança jurídica.

O Soja Plus é um programa de melhoria contínua, não é uma certificação, e não tem custo para o produtor. Tem o intuito de se tornar o maior projeto em matéria de gestão da propriedade rural do país em um horizonte de dez anos.


O avanço do agronegócio com o Soja Plus vai sedimentar o modelo de competitividade, preparando o produtor para atender às demandas por produtos mais sustentáveis do ponto de vista econômico, social e ambiental.

Fonte: O Globo, 2/12/2011

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